Crise na Venezuela: o que levou o país vizinho ao colapso econômico e à maior crise de sua história
A crise na Venezuela, que neste início de 2019 vive a instalação de um governo paralelo ao do presidente eleito, Nicolás Maduro, vem ganhando contornos de tragédia há alguns anos.
Nesta quarta, 23 de janeiro, milhares de pessoas foram às ruas do país pedir a saída de Maduro. Houve muita violência – a ONG Observatório Venezuelano de Conflitividade Social contabilizou 65 protestos violentos contra o presidente no dia anterior.
Durante a manifestação desta quarta-feira em Caracas, o líder oposicionista Juan Guaidó, deputado de 35 anos que tomou posse no dia 11 de janeiro como presidente da Assembleia Nacional, se declarou presidente interino do país.
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, afirmou que as Forças Armadas rejeitarão qualquer um que se autodeclare mandatário ou que chegue ao cargo imposto por “interesses obscuros”.
Os governos dos Estados Unidos, do Brasil, da França, da Espanha e de mais 8 países (Argentina, Albânia, Canadá, Chile, Colômbia, Dinamarca, Equador, Peru) reconheceram Guaidó como novo mandatário venezuelano. Já os da Bolívia, da China, de Cuba, do Irã, do México e da Rússia declaram apoio a Maduro.
A Venezuela cortou relações diplomáticas com os EUA e determinou que funcionários americanos deixem o país em 72 horas.
O presidente americano Donald Trump já disse que uma intervenção militar na Venezuela não está descartada.
A ONU (Organização das Nações Unidas) já pediu para que haja “diálogo” no país para evitar um “desastre”.
A BBC News Brasil também revelou que o Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) deve cancelar, nesta quinta-feira, o pedido de desligamento da Venezuela feito por Nicolás Maduro em abril de 2017, além de anunciar a retirada de todos os membros do governo bolivariano de postos oficiais da entidade.
Maduro havia pedido o desligamento da entidade em 2017 após ela convocar uma reunião para tratar da crise humanitária no país.
Fome e êxodo
A crise venezuelana não começou agora. A fome fez os venezuelanos perderem, em média, 11 quilos no ano passado. A violência esvazia as ruas das grandes cidades quando anoitece. E a situação provocou um êxodo em massa para países vizinhos. Esta semana, uma reportagem da BBC News relatou a situação de corpos que explodem nos necrotérios pela falta de eletricidade para refrigeração.
O país vizinho vive a maior recessão de sua história: são 12 trimestres seguidos de retração econômica, segundo anunciou em julho a Assembleia Nacional, o parlamento venezuelano, que atualmente é controlado pela oposição.
A dimensão do colapso pode ser vista nos números do Produto Interno Bruto. Entre 2013 e 2017, o PIB venezuelano teve uma queda de 37%. O Fundo Monetário Internacional prevê que, neste ano, caia mais 15%.
A situação foi explorada também na campanha eleitoral brasileira. Candidatos e eleitores de oposição ao Partido dos Trabalhadores, que historicamente apoiou os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, tentaram usar o fracasso venezuelano como alerta do que poderia ocorrer no Brasil com a eleição de Fernando Haddad.
Os petistas, por sua vez, lembraram que Chávez era um militar e é com apoio e participação direta das Forças Armadas que Maduro vinha governando.
Em agosto, a Organização Internacional para as Migrações, ligada à Organização das Nações Unidas, disse que o aumento do número de pessoas deixando a Venezuela por causa do colapso econômico hiperinflacionário faz o momento de crise estar próximo ao dos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo rumo à Europa.
Em novembro, a ONU informou que 3 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos.
Mas como a situação na Venezuela chegou a esse ponto? A BBC News Brasil faz aqui um resumo de como a Venezuela entrou em colapso.
(…)