Laranjas podres antecipam o embolor do governo Bolsonaro

Gustavo Bebiano, Ministro Secretaria-Geral da Presidência (Foto: Reprodução/Internet)

Sem completar sequer dois meses de vida, o governo Bolsonaro parece envelhecer um ano a cada dia. O presidente e os parlamentares do PSL se elegeram prometendo acabar com “tudo que está aí, tá ok?”. Desde então, quem procura a “nova política” do PSL, só a encontra encolhida entre as velhas e empoeiradas práticas de corrupção. E assiste um governo que, ao invés de dar respostas, transmite a crise ao vivo e pelo Twitter como um patético reality show.

Antes da posse, a investigação sobre o ex-assessor Fabrício Queiroz envolveu diretamente Bolsonaro e seu filho Flávio, eleito senador também pelo PSL. Na investigação do MP foram descobertas movimentações bancárias típicas de lavagem de dinheiro – com saques e depósitos fracionados – transações imobiliárias em que a conta não fecha e empregados fantasmas, os laranjas.

A pior parte, é claro, foram os fortes indícios de ligação de Flavio Bolsonaro com milicianos que podem estar envolvidos no assassinato de Marielle Franco. Queiroz e Flávio Bolsonaro se recusam sistematicamente a comparecer para depor do Ministério Público. Mas isso foi somente o início do Laranjal.

Quem diria que, em menos de de 50 dias, saberíamos que o uso de laranjas para transações nebulosas com dinheiro público era o modus operandi do PSL. Há uma semana, a Folha de São Paulo revelou que Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo e deputado federal do PSL, patrocinou um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais.

Quatro candidatas repassaram boa parte dos 279 mil reais de recursos públicos de suas campanhas para empresas de pessoas ligadas diretamente a Marcelo. Uma das candidatas relata ter sido ameaçada com armas por dois assessores do ministro quando se negou a transferir o recurso. O deputado segue despachando como ministro, após um providencial afastamento de 1 dua para tomar posse do cargo na Câmara.

Poucos dias depois, noticiou-se também que Luciano Bivar, deputado federal e atual presidente do PSL, usou uma candidata laranja em Pernambuco para receber 400 mil reais de dinheiro público. Com apenas 274 votos, 95% do recurso foi gasto em uma gráfica que sequer tem máquinas. Em um sincericídio cínico e profundamente machista, Bivar justificou a baixa votação alegando que política não seria “coisa muito da mulher”. Sim, claro, principalmente quando certos homens desviam ilegalmente 95% dos recursos da candidata para seus interesses eleitorais ou sabe-se lá pra que mais. 

A notícia atingiu o Planalto quando o deputado recifense apontou Gustavo Bebianno, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência e ex-presidente do PSL, como responsável por controlar e ter liberado o repasse nacional da verba. No jogo do empurra-empurra, o ministro devolveu a responsabilidade para Bivar. E tentou amenizar a crise instaurada em Brasília, assegurando estar em contato com o presidente.

A partir daí o absurdo tomou conta da realidade. Pelo Twitter, um dos filhos de Jair Bolsonaro, Carlos, decidiu desmentir publicamente Bebianno e, para comprovar, divulgou um áudio do seu pai enviado a ele. Poucas horas depois, Bolsonaro retransmitiu o conteúdo publicado pelo filho e colocou no ar o trecho de entrevista à TV Record em que ameaçava a demissão do ministro. Ao invés de assinar a exoneração, como cabe ao Presidente da República, Bolsonaro usou o Twitter e um áudio de Whatsapp para tentar derrubar um ministro.

Talvez os rodeios e a falta de coragem expressem rabo preso com Bebianno que, eventualmente, tenha boas histórias da campanha para contar ao país. Mas é difícil se recordar de um gesto tão infantil vindo de um Presidente da República, agravado pelo papel do filho. Nem mesmo as aventuras de Michel Temer como youtuber contra ex-aliados chegaram a tanto.

Para além do ridículo, estamos falando aqui de crime eleitoral e, possivelmente, no caso de Flavio, de lavagem de dinheiro. A demissão de Bebianno não encerra o assunto. Seguiremos exigindo investigações independentes e punição dos responsáveis.

Bolsonaro foi eleito vendendo a falsa esperança de “limpar” o país da corrupção. As milhões de pessoas que apertaram 17 agora assistem às denúncias de um governo desorientado. Em breve, conhecerão as propostas amargas de Paulo Guedes para a economia.

Conforme vai ficando claro que a verdadeira agenda é retirar direitos e não combater a corrupção, a crise pode sair do Twitter e ocupar as ruas.