Brasil perde um dos maiores jornalistas de sua história: Alberto Dines

Alberto Dines,1932-2018 (Foto: Reprodução/ Observatório da Imprensa

Do El País

Morreu na manhã desta terça-feira, 22, o jornalista e escritor Alberto Dines. Ele tinha 86 anos e estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a uma pneumonia. Dines foi o fundador do Observatório da Imprensa, veículo que desde 1994 analisava a atuação dos meios de comunicação brasileiros, e passou pelos principais jornais do país. O escritor também foi um dos primeiros colunistas da edição brasileira do jornal EL PAÍS, publicando seus textos críticos ao longo de dois anos neste jornal.

Foi sob a batuta de Dines, que o Jornal Brasil publicou duas das suas capas mais históricas. No dia 14 de dezembro de 1968, um dia após a promulgação do AI-5, o decreto mais severo de todos os Atos Institucionais da ditadura militar, a capa do jornal levava um quadro pequeno, no canto esquerdo superior com a seguinte frase: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx: 38º, em Brasília. Mín: 5º, nas Laranjeiras”. A previsão do tempo, obra de Dines como chefe do jornal, foi um ato ousado em meio à forte censura da época.

Em setembro 1973, novamente Dines dribla a censura com maestria. O regime militar brasileiro proibira que os jornais daqui publicassem qualquer manchete sobre a morte do então presidente chileno Salvador Allende, que culminou com o golpe militar no Chile. O Jornal do Brasil então foi às bancas sem manchete. A capa levava apenas um texto, sem título, tomando a primeira página toda e noticiando a morte de Allende. A desobediência de Dines entrou para a história do jornalismo brasileiro, mas lhe custou uma demissão, três meses depois, por “indisciplina”, como ele mesmo contou, anos depois.

Mais tarde, em 1975, dirigiu a Folha de S. Paulo, jornal que deixou cinco anos mais tarde, para colaborar para o icônico O Pasquim. Após uma temporada em Lisboa, onde lançou o periódico Observatório da Imprensa em 1994 para acompanhar o trabalho da mídia brasileira, Dines retorna ao Brasil e lança a versão digital do Observatório, site que ele dirigiu até o final da vida.

Como escritor, Dines lançou mais de 15 livros, dentre eles Vínculos de Fogo, ganhador do Jabuti de Estudos Literários em 1993. Sua influência e importância fez com que a notícia de sua morte levasse seu nome à primeira posição dos assuntos mais comentados no Twitter no Brasil na manhã desta terça. O presidente Michel Temer usou a rede social para lamentar o falecimento do jornalista: “O jornalismo brasileiro perde um dos pilares da ética e do profissionalismo”, descreveu Temer.

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